Mudança do tópico "pra quem gosta de vampiros"

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lyne
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Pra quem gosta de vampiros...xD

Mensagem por lyne »

Galera, estou apoiando meu amor que está escrevendo um livro, e como eu amo v6´s gostaria de apresenta-lo.... :wink:

Dêem opiniões, e etc...tudo será bem vindo...obrigada pela atenção!!!

Link para donwload: :arrow: http://www.4shared.com/file/hrJZozDo/Texto_1.html

E um trechinho,.... :D
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Estava no confessionário, Padre Alexandre, servo de Deus. Eu sei que parece loucura e espero que você também não fique louco, a linha é tênue entre a sanidade e a insanidade. Não peço que acredite no que irei dizer, peço apenas que me ouça e julgue a sua veracidade. Irônico uma pessoa de minha raça confessar seus pecados a um sacerdote de Deus. Você descobrirá como aconteceu esse contato tão absurdo. Acredito que Deus deseje salvar minha alma, se ainda há uma dentro de mim.
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E....o twitter do autor,__ https://twitter.com/PetersonSF
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Sayuri
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Re: Pra quem gosta de vampiros...xD

Mensagem por Sayuri »

oii eu soh baixei e ainda não vi...

está completo?? ou foi só uma primeira parte???

se for, acho legal como se vc postasse fic na seção leitura e ir postando pro pessoal ir lendo em vez de baixar ^^

mas eu vou dar uma olhada sim, o começo me chamou a atenção
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lyne
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Re: Pra quem gosta de vampiros...xD

Mensagem por lyne »

Sayuri escreveu:oii eu soh baixei e ainda não vi...

está completo?? ou foi só uma primeira parte???

se for, acho legal como se vc postasse fic na seção leitura e ir postando pro pessoal ir lendo em vez de baixar ^^

mas eu vou dar uma olhada sim, o começo me chamou a atenção


Ok, amore....esntão vou mover o tópico pra lá!!! :wink:
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lyne
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Mudança do tópico "pra quem gosta de vampiros"

Mensagem por lyne »


E pra quem quiser baixar... :wink: :arrow: http://www.4shared.com/file/hrJZozDo/Texto_1.html

Capitulo I
Um sonho. Uma maldição

A loucura é uma realidade para os normais, mas para os são é apenas mais um sonho distante...


Estava no confessionário, Padre Alexandre, servo de Deus. Eu sei que parece loucura e espero que você também não fique louco, a linha é tênue entre a sanidade e a insanidade. Não peço que acredite no que irei dizer, peço apenas que me ouça e julgue a sua veracidade. Irônico uma pessoa de minha raça confessar seus pecados a um sacerdote de Deus. Você descobrirá como aconteceu esse contato tão absurdo. Acredito que Deus deseje salvar minha alma, se ainda há uma dentro de mim. Em outras épocas eu já me encontraria em cinzas. O temor, a caçada, a dúvida da existência, o medo, a extinção, adrenalina correndo em órgãos sem vida, a luta pela sobrevivência, a sede, a besta, a esperança, a fé... Acredita em vida após a morte? Eu acredito! A besta está à solta. A reencarnação da morte. A fome. Ela precisa ser contida. A cada noite é uma batalha a ser vencida. Sou um filho das trevas. Ansiosamente aguardo o perdão de Deus, o dia da redenção. O dia em que estarei nos braços de minha amada. Enquanto Deus prova suas criações, muitos se perdem no caminho. Sou eu um pecador que não merece salvação? Estarei eternamente perdido?

– Conte-me sua história, meu filho.
– Minha história... Perguntas ao morto qual é a sua história... É importante lhe contar minha história, Padre, pois no túmulo jaz o segredo.

Meados do século XVII. Ano de 1698. Desde a morte de minha mãe tive uma vida triste, melancólica, depressiva. Naquela época eu era um garoto de oito anos de idade. Nunca mais saíra de casa. Meu pai era um homem devoto a Deus. Não o víamos muito, sempre estava viajando para fazer negócios. Constantemente recebia visitas do clero local para ensinar-me não só as doutrinas da igreja como também as disciplinas circulares. Cresci em um ambiente onde a igreja e seus ensinamentos estavam presentes. Sempre lhes perguntei se um dia encontraria minha mãe. Diziam que Deus estava cuidando dela e, na hora certa, iríamos nos encontrar. O pouco tempo que meu pai passava conosco falava as mesmas coisas, que um dia todos nós iríamos nos encontrar em família, no céu, e iríamos viver felizes para sempre, ao lado de Deus. Cresci alimentando essa fantasia em meu coração.
Gostava de escrever poesias e compor músicas, mas meu passatempo favorito era minhas pinturas. Adorava pintar coisas sobre a morte, escuridão, trevas. Tentar imaginar a vida após a morte.
Mesmo jovem já era muito conhecido no mundo afora devido à influência do meu pai. Todos me apelidaram como Incógnito, pois nunca me apresentei a ninguém. Minhas pinturas eram valiosas, meus quadros expressavam meus sentimentos. A expressão de uma alma vazia. Sem minha mãe restaram-me apenas meu pai e minha irmã, meus talentos e minha assinatura, Marcílio Mosset.
Morávamos próximo a praia numa cidade chamada Rio de Janeiro. Lá conheci uma dama chamada Elizabeth. Lembranças, até quando meu Deus vai permitir que eu sofra assim? Não posso mais ser beijado na face pela morte. Será essa a minha sina?

Pensativo. Marcilio Mosset fez uma longa pausa, refletindo por um instante a noite soprando a leve brisa da primavera.

– Fale-me de Elizabeth.

Marcílio Mosset ficou temporariamente calado, absorto, refletia as palavras do Padre Alexandre. Continuou...

Elizabeth Vilas Boas, descendente de família nobre de linhagem Portuguesa, filha adotiva do maior produtor de açúcar da cidade. Seus pais morreram em um náufrago de uma das quatro embarcações que vinham de Portugal para o Brasil. Apenas duas pessoas sobreviveram, ela e seu tio.
Nossas famílias sempre negociavam venda e exportação de açúcar para as cidades vizinhas. Meu pai realizava todo intercâmbio e desembaraçava a parte burocrática dos negócios. Um verdadeiro mar de dinheiro para aquela época pós–colonial.
Nos conhecemos ocasionalmente em um baile de máscaras, onde estavam confraternizando o fechamento de um contrato de grande lucro para exportação de açúcar aos países da Europa. Havia todo tipo de pessoas da alta sociedade comemorando essa conquista, espanhóis, portugueses, franceses, alemães,... Era a primeira vez em que meu pai foi convidado a participar de um evento com toda a família, geralmente essas festas eram restritas apenas aos envolvidos nos negócios.
No baile meu pai estava rodeado de mulheres. Tinha muitas pretendentes. Não era desejo de o seu coração casar-se novamente, ainda pensava muito em minha mãe. Havia um quadro pendurado em seu escritório com a sua imagem. Era algo celestial. Às vezes minha irmã e eu o encontrávamos admirando aquele quadro, seus olhos lacrimejavam. Era difícil para ele cuidar de nós. Sentia muito a sua falta. Saudades. Ele a amava. Durante suas viagens, Vassalo tomava conta de nós.
Vassalo. Um negro alto, corpulento e robusto. Certa vez meu pai estava trabalhando até mais tarde no escritório quando ouviu um barulho vindo da cozinha e a empregada gritando histericamente. Minha irmã e eu acordamos com toda aquela algazarra, corremos para lá.
Lá estava ele com um pedaço de pão na mão, acocorado no canto da cozinha sendo ameaçado pela emprega com uma panela gritando.
Estava com os olhos assustados querendo saltar a face. Segurava seu pão entre as mãos como se fosse um tesouro.
Meu pai o acolheu e lhe deu de comer e ouviu sua história. Vassalo havia sido transportado de navio para ser vendido como escravo nessas terras. Conseguiu fugir junto a uma turba que haviam planejado essa fuga. Vagou por vários dias dentro das matas. Roubava algumas plantações de fazendeiros para se alimentar. Diversas vezes quase foi morto pelos capatazes e serviçais dos seus senhores. Vassalo lutava pela sobrevivência.
Meu pai compadecendo de sua história e da vida que levava nos ombros, convidou-o a fazer parte da família. Abrigo e comida em troca de serviços. Vassalo ficou abruptamente feliz. Fez um juramento a minha família, a partir daquele dia nos protegeria e nos serviria. Sem nome autodenominou-se como Vassalo. Era assim que o chamávamos. Com o passar do tempo ele se tornou meu único e melhor amigo.
Durante o baile um cavalheiro de roupas e máscara dourada, com uma pena na cabeça, aproximou-se de minha irmã e tomou-a para dançar. Para mim não passava de um charlatão, parecia àqueles burgueses chatos e metidos que se achavam com o rei na barriga. Graciosamente ela sorriu e o acompanhou. Não estava acostumado a lidar com a sociedade. Me senti mal naquele ambiente. Desejava sair dali. Queria estar só.
Observei atentamente aquele bando de pessoas rindo, bebendo e se divertindo. Decidi ir embora. Enquanto girava meu corpo sobre os calcanhares quase trombei com uma dama. Me deparei com a presença mais bela do mundo. Nossos rostos estavam a menos de dez centímetros de distância. Não pude ver seu rosto por causa da máscara. Seus olhos penetraram profundamente em minha alma. Fiquei rubro de vergonha. Senti um calor invadir meu ser, dominando minha essência. Senti-me flutuar. Pensei ter perdido a respiração. Meu corpo não respondia aos meus movimentos. Queria falar, mas as palavras se entalaram na garganta. A língua travou, a voz sumiu...
– Perdão cavalheiro pela minha distração, não vi o senhor...
– E... Eu... Eu que peço desculpas senhorita, não prestei atenção... – Gaguejei todo desajeitado.
Ela riu. A situação era engraçada. Algo mexeu dentro de mim. Alegria, felicidade, paixão, amor...
– Qual a sua graça?
Ela sorria, eu já estava hipnotizado.
– Me chamo Elizabeth Vilas Boas.
Aquele sobrenome não me era estranho. Fiquei muito surpreso em saber que ela era a sobrinha do quase sócio do meu pai, não eram sócios reais, acreditava que um sem o outro não existiria sucesso nos negócios.
Com certa timidez e muita delicadeza estendeu-me sua mão, tomei–a, curvei–me e beijei–a.
– É uma honra conhecer tão doce e bela jovem. Sua beleza é como uma estrela que se ascende sobre as montanhas como se fosse o amanhecer.
Ela sorria e eu ficava cada vez mais bobo perante sua presença. Estava enfeitiçado. Sentia-me preso por grilhões inquebráveis, não sei o que acontecia comigo. Nunca experimentara tão doce e nobre sentimento. A paixão dominava meu peito. Aquilo parecia obra do amor. O amor nascendo em um espírito morto.
– Ainda não me disse seu nome, cavalheiro.
– Perdão. Quanta indelicadeza. Meu nome é Marcílio Mosset.
– Marcílio Mosset! – espantou–se, surpresa. –O Incógnito? Não será alguém querendo se passar por tal?
Sua expressão agora era de dúvida. A música enchia o espaço com uma melodia enfeitiçadora, era convidativa, parecia o canto da Iara querendo atrair seus marinheiros para o fundo do mar.
– Me permite essa dança? Posso convencê-la de que sou o que sou. Cabe a você o julgamento.
Consentiu balançando a cabeça.
A valsa foi um momento oportuno para paqueras. Não sabia como lidar com as damas, mas eu tinha um aliado, a minha sinceridade. Me tornei um galante naquele momento. As palavras saíam de minha boca de modo que, aos poucos, pude convencer Elizabeth que eu era Marcílio Mosset. Conversamos muitas coisas enquanto dançávamos. Ela sempre sorria. Sorriso pelo qual me fez minha alma definhar de alegria. Ela era uma inspiração única. Um anjo celestial.
Minha vida havia tomado um novo rumo. Nunca estive feliz. O poder do amor, fui seduzido, virei escravo de suas artimanhas, era cativo do amor.
– Me permite essa valsa, intruso.
– Marcus! – Elizabeth espantou-se. Porque você insiste em me importunar. Me deixe, por favor.
– Deseja algo cavalheiro? – lhe indaguei, indignado.
– Elizabeth é minha seu canalha.
Fiquei muito irritado, meus olhos se acenderam de raiva e a vontade dentro de mim crescia, queria lhe dar um belo soco no queixo e vê-lo voar por cima da mesa. Uma grande confusão poderia acontecer ali, o baile poderia acabar naquela noite. Tudo por causa de ciúmes do priminho embriagado.
– Marcus, não arranje um escândalo justamente nesse evento tão importante para nossa família. Não estrague tudo novamente como fez da última vez.
– Você é minha Elizabeth não permitirei que outra pessoa lhe tenha.
– Você é louco! – Estava cada vez mais irritado, Elizabeth se colocou entre Marcus e eu.
– Marcílio poderia me acompanhar, por favor. Não estou me sentindo bem.
Marcus segurou seu pulso esquerdo. Olhei para ele como se houvesse labaredas de fogo em meus olhos. Elizabeth o repreendeu. Ele soltou-a. Bufou. Estava nervoso. Muito irritado. As palavras de Elizabeth o tinham atingido como um projétil em direção do peito.
Para mim ele era mais um daqueles burguesinhos filhos de senhores de terra, com ciúmes da própria prima, embriagado, descontrolado, mimado e metido.
Fomos até a sacada. Por um curto período de tempo o silêncio dominava a noite enquanto tomávamos ar puro e observávamos as luzes da cidade. Elizabeth já não sorria como no baile. Parecia apreensiva. Não estava à vontade. Marcus. Ele a preocupava. Elizabeth quebrou o silêncio.
– Marcílio gostaria de ir para casa. Poderia me fazer companhia?
– Será uma honra, Elizabeth.
– Obrigada Marcílio.
Sorriu.
Me senti aliviado ao sair daquela balbúrdia. Não estava acostumado a lidar com muitas pessoas, com garotas e ainda mais de alguém com ciúmes a ponto de criar uma baita confusão. Aquela noite parecia promissora, adrenalina percorria meu corpo. Não sabia o que falar com Elizabeth, talvez não fosse o melhor assunto mesmo assim tentei.
– Marcus parece tornar-se uma pessoa problemática quando está bêbado.
– Na verdade ele sente atração por mim. Meu tio não sabe disso, nunca lhe falei nada, afinal, somos primos. Somos parentes. Nunca poderíamos ficar juntos. Meu tio abominaria nossa relação. Tenho nojo dele, um verdadeiro libertino, um puritano. Obriga as escravas a ir para a cama. Já tentou até mesmo possuir Benda, mas eu interferi.
– Quem é Benda?
– Minha empregada. Posso até dizer que é minha melhor amiga.
– Agora estou aqui para lhe proteger.
Percebi que Elizabeth sorria. Fiquei meio encabulado. Tínhamos algo muito em comum. Nossos empregados eram nossos amigos. Coincidência? Destino? Continuamos conversando enquanto andávamos entre as ruas já nos aproximando da praça das flores, um local maravilhoso e com um clima romântico. Muitos casais visitavam aquele local.
Estava apaixonado, feliz, nunca havia me sentido daquela maneira desde a morte de minha mãe. Aquele sorriso, jamais poderia esquecer aquele lindo sorriso que brotava de seu rosto. Aquela noite havia mudado minha vida. Não como eu esperava. O destino tomou outro rumo porque sua mão estava no meio, o profeta do diabo.
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lyne
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Re: Mudança do tópico "pra quem gosta de vampiros"

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Cont...

– O profeta do diabo? – Interrompeu o Padre quebrando minha linha de raciocínio.
– Sim Padre. Ele foi o meu senhor, não gostava que eu o chamasse daquela forma. Foi ele o responsável em me tornar o que sou hoje.
– E como isso aconteceu?

Paramos por um momento na praça, estava pasmo com aquele ambiente maravilhoso e perfumado. Uma senhora aparentando ter setenta anos, coberta por uma echarpe e um lenço na cabeça aproximava-se carregando consigo uma cesta com lindas rosas. Levou a mão para dentro da cesta tirando uma rosa. Era linda.
– Uma moeda. Apenas uma moeda. – Estendia a rosa para Elizabeth. – Apenas uma moeda.
Vi nos olhos de Elizabeth o quanto aquela rosa a deixou encantada, mais uma vez seu sorriso brotava em seu rosto. Não consegui resistir. Imediatamente coloquei a mão no bolso a procura de uma moeda. Nunca andara com carteira ou com dinheiro. Nunca precisei, mas por ironia do destino havia trazido comigo algumas moedas.
– Aqui está senhora.
– Obrigada jovem cavalheiro. Que o amor possa reinar em seus corações. Obrigada.
– Uma flor para a flor mais bela desse mundo.
– Marcílio... Estou encantada. Muito obrigada.
Não lhe entregava apenas uma rosa, entregava-lhe todo meu amor e meu coração como se estivesse pedindo para assumir um compromisso comigo. Elizabeth parecia que telepaticamente consentia com meu desejo dizendo sim apenas com seu sorriso.
– Não estamos mais no baile. Agora podemos tirar essas máscaras Marcílio. Gostaria de ver seu rosto.
Balancei a cabeça. Enquanto retirava minha máscara ela fazia o mesmo. Estávamos nos entreolhando como se estivéssemos perdidos e consultando a um mapa. Como ela era linda. Celestial. Divina. Ela pousou suas mãos sobre a minha enquanto acariciava seu rosto. Fugindo as palavras da minha mente e do meu coração me declarei a ela.
– Te amo Elizabeth...
Seu rosto enrubesceu. Quando notei o que houve de igual maneira fiquei vermelho. Gaguejei. As palavras travaram na garganta.
– Me sinto tão a vontade perto de você Marcílio.
Seu rosto vagarosamente se aproximava do meu. Fiquei gélido. Aos poucos fui me inclinando. Vagarosamente seus lábios se aproximaram de meus ouvidos, sussurrou duas palavras, “te amo”.
Por um momento perdi os sentidos. Aquilo penetrou com força em minha alma. Fui arrebatado de meu próprio corpo. O que foi aquilo? Seria um sonho? Não.
Elizabeth afastou seu rosto. Observava minhas feições. Estava encabulado. Ela sorria. Parecia um anjo na minha frente. A obra de arte mais perfeita que Deus já criou desde a sua existência.
Lentamente seus lábios se aproximaram dos meus. Não resisti àquele desejo entregando-me a ela. Nos beijamos como duas crianças desajeitadas. O amor. Pela primeira vez na vida experimentei o poder do amor.
Mesmo com aquele momento celeste algo me incomodava. Sentia a presença de alguém. Sexto sentido, intuição. Não estava longe dali. Não queria quebrar o encanto. Não queria que Elizabeth ficasse preocupada. Guardei aquele sentimento comigo. Marcus. Temia que ele fizesse algo. Marcus.

A alguns metros dali estava Marcus, escondido atrás de um dos bancos da praça, se mordia de raiva. Praguejava todo tipo de palavras imundas. Amaldiçoava Marcílio e Elizabeth, sua prima. Sentia-se traído. Chorava como uma criança. Discretamente estavam sendo perseguidos por Marcus.

Solidão. Minha companheira. Minha inimiga inseparável. Um fio vermelho escorria pelos cantos dos meus olhos lacrimejados. Sangue. Lágrimas de sangue manchavam minha face. Elizabeth...
– Percebo tristeza em suas palavras, meu filho. Aconteceu algo a Elizabeth?
– Sim padre. Você será testemunha perante Deus do mais vil e cruel pesadelo que uma pessoa como ela poderia passar. Você saberá o que aconteceu.

O Padre compadeceu da causa de Marcílio. As poucas palavras que até agora haviam sido proferidas faziam seu íntimo clamar a Deus por clemência aquela criatura.

Chegamos à porta de sua residência. Elizabeth abraçou meu corpo com muita força. Marcamos de nos encontrar no dia seguinte, à noite, na praça das flores. No mesmo local onde lhe entreguei aquela rosa, onde aconteceu o primeiro... – Suspirou. – e ultimo beijo. Sua empregada, Benda, abriu a porta. Nos beijamos apaixonadamente como despedida e, juntas entraram.
Elizabeth não saía de meus pensamentos. Enquanto caminhava pelas ruas, retornando para minha casa, um turbilhão de sentimentos passou em minha mente. A noite foi maravilhosa, mas podia sentir que havia algo de errado.
O sexto sentido novamente, a intuição. Quem mais poderia ser senão Marcus. Apenas esperando o momento oportuno para atacar. Não. Estava embriagado para bolar qualquer tipo de plano. Marcus morria de ciúmes e teria de se conformar. Puritano. Imaginava a qualquer momento Marcus saltando abruptamente em minha direção para me agredir.
Continuei andando, vagarosamente, espreitando qualquer movimento suspeito. Sexto sentido, maldita intuição, aquilo me incomodava. Sentia a presença de alguém. A rua estava deserta, era arborizada, estava escura, a música do silêncio ecoava pelo ar, o céu testemunhava o delinqüente, qualquer um poderia estar escondido entre árvores aguardando a hora certa para atacar. Poderia ser um mendigo, ou um ladrão, não descartava a hipótese de ser Marcus. Alguém me espreitava.
Senti um vento soprando em minhas costas arrepiando todo meu corpo. Girei o corpo sobre os calcanhares rapidamente. Nada. Ninguém. A tensão tomou conta de mim. Medo. Adrenalina. Tive a sensação de estar lidando com um fantasma. Uma silhueta, em frações de segundo, eu vi, passou por mim desaparecendo feito fumaça. O que era aquilo? Meu corpo tremia, o coração batia feito uma banda de fanfarra. Um vento no cangote arrepiou-me, tentando denunciar o atentado. Girei o corpo sobre os calcanhares. Nada. Estava atônito. Nunca havia experimentado o medo como naquela noite.
– Quem está aí?
Ninguém, respondeu o silêncio da noite. A insanidade queria apoderar-se de minha mente. De repente, risos. Agora gargalhadas. Não consegui identificar a direção do som. Gargalhadas insanas e sarcásticas.
– Quem está aí? Responda!
Silêncio novamente. A tensão era grande. Estaria ficando louco? Não. O sexto sentido tentava denunciar o delinqüente. Tinha certeza que alguém estava por perto.
– Marcílio... – ouvi uma voz atrás de mim enquanto sua mão tocava levemente meu ombro esquerdo com a mesma leveza de uma pluma caindo.
Girei o corpo sobre os calcanhares quase instantaneamente. Que susto. Andei de costas desesperadamente, com dois passos tropecei e fui de encontro ao chão. Temporariamente o medo tomou conta de mim. Meu coração disparou. Aquela silhueta era de um homem muito estranho. Vestido com um chapéu largo e redondo, cabelos longo encaracolados, levemente gordo, mas dentro do peso, possuía uma capa preta e também estava de máscara. Parecia um cosplay do Zorro. Deveria ter vindo do baile. Todos estavam vestidos de maneira muito estranha, como ele. Meu coração aos poucos foi desacelerando e o medo se dissipando.
– Marcílio, você é um cara muito engraçado. – ria com muito sarcasmo. – É por isso que gosto de você.
Aquele riso era irritante. Não acho que havia saído do baile de máscaras, mas sim do hospício.
– Quem é você? Como sabe meu nome? Você estava me seguindo?
– Marcílio, uma pergunta de cada vez. Vamos para as apresentações. Meu nome é Conde Magnus. – disse o maldito fazendo reverência.
– Conde Magnus? – questionei com certa ironia enquanto me levantava e sacudia a poeira de minhas calças.
– Estou lhe observando há muito tempo, Marcílio. Para ser mais preciso acompanho sua vida desde a morte de sua mãe. Está chegando a hora Marcílio. Não posso mais esperar.
Olhei fixamente para aquele sujeito. O que ele queria dizer com aquilo? Eu ria feito uma hiena. A única coisa que eu sabia é que aquele encontro mudaria o rumo de minha vida.
– Preciso ir para casa, se o senhor me dá licença...
– Seu talento, Marcílio! Seu talento. Não posso deixar ser extinto. Preciso preservá-lo. Imortalizá-lo. Viverá para sempre. – Falava parecendo um frade pregando o sermão.
– Você é maluco. Perdeu a sanidade. Andou bebendo mais do que devia?
Ele ria como um palhaço da corte. Insano. E eu achando que Marcus era o louco da história.
– A música começou, ouça Marcílio, ouça. A música. Está ouvindo? Que melodia...
– Não. Não ouço nada.
– Desculpe. Tinha esquecido que vocês, mortais, são tão limitados. Acho que está na hora do nosso herói salvar a personagem principal em nossa história de romance.
– Você não diz nada com nada. Precisa de um médico, precisa ser internado...
– Então diga a isso a Marcus. Pobre Elizabeth, não seja tão cruel com ela, isso pode magoar o coração do nosso anfitrião. – Risos, ele gostava de ser irônico.
– O que você quer dizer com tudo isso?
Agora falava sério e gesticulava como um democrata.
– Marcílio, como desde a primeira vez que o vi. Quanta inocência. Vamos aos fatos. Primeiro Marcílio tira a sobrinha do maior produtor de açúcar para dançar. Depois o priminho ciumento, histérico, embriagado aparece tentando atrapalhar os dois a ponto de poder estragar a festa. Em seguida Marcílio sai do baile acompanhado de Elizabeth, o priminho burguês também desaparece do baile, perseguindo-os. Ao final do baile, quando todos voltam para casa, o alvoroço, lágrimas, desespero, raiva, titio ficará atônito ao ver sua sobrinha mortinha assim como sua escrava Benda. De quem será a culpa? Daquele que sobreviverá ao duelo. Marcílio Mosset! O priminho será morto por suas próprias mãos, Marcílio irá conter o assassino com seu ódio. Infelizmente você não terá argumentos para se defender perante a corte. Titio pedirá sua cabeça. Irá para a forca...
Comecei a correr antes mesmo de terminar seu discurso sobrenatural. Sexto sentido, a intuição predominando minha mente. O peso na consciência atormentava-me. Toda aquela situação era estranha. Quem era aquele homem? Marcus poderia sim fazer uma besteira. Embriagado o demônio poderia tomar conta de seu corpo. Poderia agir sem razão. Aquele homem parecia ser o profeta do diabo. Não duvidava mais de nada. A noite fora agitada. Se a intenção daquele homem era me deixar louco, havia conseguido.
Chegando próximo a residência de Elizabeth notei a porta entreaberta. Empurrei-a. Entrei. Observava atenciosamente tudo em volta. Aquela casa parecia muito maior por dentro do que aparentava sua fachada. Havia muitos quadros, percebi que parte deles possuía minha assinatura. Marcílio Mosset, o incógnito, aquele que a sociedade desconhecia.
Caminhei até o corredor. Ouvi um murmúrio vindo de um cômodo próximo, a cada passo o murmúrio era mais audível. Aquela casa era enorme. Continuei caminhando, tentando guiar-me pelo som dos murmúrios. A cada passo ficava mais e mais nítido. Alguém estava chorando. As palavras do profeta do diabo me voltaram à mente. Fiquei zonzo. Esperava que não fosse verdade.
Minha esperança foi em vão. O profeta do Diabo tinha razão, Marcus fizera uma grande besteira, destruiu a vida de todos nós. Na terceira entrada a esquerda do corredor. A cozinha. A visão do inferno. Meus pulmões não conseguiam exercer suas atividades. Pasmo. Atônito. O ódio cresceu dentro do meu peito assassinando minha humanidade. A besta tomou posse do meu corpo. Meus olhos se ascenderam, lágrimas. Todo tipo de sentimento sondou minha cabeça e minha mente. Tive medo, preocupação, receio. Chorei junto com o desgraçado. Ele chorava e soluçava murmurando palavras inaudíveis. O Profeta do Diabo tinha razão, suas palavras eram verdade. O verdadeiro diabo estava ali, na minha frente, o diabo em pessoa. Marcus. Aquele desgraçado.
No canto esquerdo estava Benda sentada com a queda de sua morte. Seu pescoço apresentava um largo e profundo corte. No centro da cozinha, em cima da mesa estava Elizabeth deitada com uma das mãos sobre peito em uma posição que dava a entender a tentativa de se defender do agressor. Seu vestido estava manchado com o doce néctar vermelho da vida. Sangue. Havia muitos furos em sua roupa, muitos cortes entre o peito e a barriga, em seus braços e em seu rosto. Marcus estava sentado na parede oposta de Benda, do lado direito, com a cabeça entre as pernas. A faca, autor do crime, jogado ao lado de seu cúmplice, a prova da insanidade humana. Havia sangue manchado em suas vestes. Ouvi meu nome ser blasfemado entre as palavras inaudíveis que produzia daquela boca imunda. Elas pareciam com animais mortos por um açougueiro pronto para distribuir a carne. De alguma forma o profeta do diabo sabia daquilo, mas como? Conde Magnus.
Vendo Elizabeth naquele estado senti meu espírito morrer. A insanidade agora me dominava. Me tornei um monstro assim como Marcus. Fui dominado pela besta. Senti o desejo de arrancar seu coração e ainda vivo esmagá-los em minhas mãos enquanto suspirava o último fôlego de vida. Iria mandá-lo à prisão do inferno. Marcus percebeu minha presença. Puritano maldito.
Naquele momento lembrei-me do quinto mandamento bíblico, “não matarás”.
Marcus levantou a cabeça. Em frações de segundos observou-me, ainda não conseguia acreditar naquele cenário apocalíptico que ele criara. Estendeu a mão ao seu lado segurando sua cúmplice de prata. Levantou-se. Correu em minha direção. Eu seria a próxima vítima.
Faltava menos de um metro, aquele maldito se aproximava rapidamente. “Não matarás...”. As palavras ecoavam em minha cabeça. Meu coração e minha mente estavam adormecidos para qualquer sermão bíblico.
Ele atingiria o alvo, gesticulava o braço com a intenção de encravar aquele objeto em meu peito. Era inexperiente. Nunca havia participado de uma briga. Não sabia como agir. Em qualquer outra ocasião eu teria levado uma surra, seria espancado, mas naquele dia eu não estava sozinho, estava possuído. A besta estava à solta. O ódio tomava conta de mim. “Não matarás...”. Agora as palavras tentavam gritar em minha cabeça. Estava surdo, a besta já me dominava. Minha mente e meus ouvidos estavam inaudíveis.
Instintivamente girei o corpo quando Marcus esticou o braço quase me acertando, desajeitado segurei-o pelo pulso e atirei meu corpo sobre ele. Ambos caímos. Durante a queda a faca escorregou entre seus dedos. Caí em cima dele. Empurrou-me para o lado e rapidamente levantou-se, buscando a faca com os olhos. Encontrando-a, retomou sua posse. Ainda estava no chão. Marcus partiu igual a um kamikaze, novamente gesticulava aquele objeto em minha direção. Estiquei o pé apoiando em seu estômago, levantei-o e joguei-o para trás de mim com o impulso de sua corrida.
A queda o fez cair sobre as cadeiras, feriu uma de suas costelas. Levantei-me, corri até a prateleira mais próxima e peguei um objeto redondo e pesado, um pilão. Marcus se levantou, estava tonto. Estava frente a minha vítima. Um turbilhão de pensamentos rodeava minha cabeça, Elizabeth... “Não matarás...” A besta precisava ser contida, mas eu já estava fora de controle. Colocando todas as forças no braço, bati-lhe contra a cabeça. No primeiro golpe ele protegeu-se com o braço direito, gritando com a dor da pancada. No segundo golpe, sua defesa foi em vão, acertei-o do lado da cabeça acima da orelha. Ficou ainda mais tonto, cambaleou para o lado. O terceiro golpe foi fatal, abri um grande corte no meio de sua cabeça, um rasgo denunciou seu estado deixando escapar um filete de sangue. Ficou inconsciente. Quarto golpe. Desmaiou. Antes mesmo de cair ao chão havia lhe acertado. Sangue voou para todos os lados. Não conseguia mais se sustentar de pé, caiu. Soltei o objeto e com a mão esquerda segurei-o pelo colarinho da camisa suspendendo sua cabeça, cerrei os pulsos da outra mão e comecei a desferir-lhe diversos socos.
Lágrimas escorriam da minha face. A besta sorria em minha mente, estava no controle enquanto eu adormecia o sono dos amaldiçoados. Estava insano. Estava louco. “Não matarás...” As palavras gritavam em minha cabeça insistentemente. Tarde demais. Marcus já estava viajando para sua aventura no inferno. Eu havia assinado minha sentença, estava condenado.
– Bravo! Bravo! Bravíssimo! Que espetáculo! – O profeta do diabo batia palmas enquanto presenciava aquela violência.
Eu tinha me tornado um demônio naquele momento. Nada mais fazia sentido. O que havia acontecido?
– Agora está preparado Marcílio. Recebeu o dom que lhe faltava.
– Cale-se, profeta do diabo. O que você quer de mim? Nada mais faz sentido. Elizabeth era doce, pura, linda, a luz que trouxe vida a esse espírito morto, mas hoje, esse espírito foi assassinado, não me resta mais nada. Nada. Acabou. Elizabeth se foi. Que Deus a tenha em seus braços. Agora eu viverei no inferno, acorrentado pelas suas correntes sofrendo na eternidade. Deus não me perdoará. Quebrei suas leis, não segui seus mandamentos, fui um filho desobediente, nunca mais terei a chance de estar ao lado de Elizabeth. Nunca mais a terei. Permitirá Deus que eu viva com ela, ao seu lado?
– Marcílio, como você é dramático. Sempre viveu trancado naquele ninho enquanto os ratos viviam no mundo afora. Eu sou a luz. ¬– Ria com a sua própria ironia, um palhaço sarcástico. Ensinarei a você o caminho, mostrar-lhe-ei a vida. Irá se deleitar com a magnitude de ser um...
Deixei-o falando sozinho, enquanto fazia aquele discurso sem pé nem cabeça. Me aproximei de Elizabeth e fiquei observando-a em seu leito de morte. O fôlego da vida já não preenchia mais seus pulmões. A tomei em meus braços. As lágrimas já não escorriam mais de meu rosto. Hora da despedida. Lentamente me aproximei de seu rosto, toquei meus lábios em seus lábios. O último beijo.
– Logo todos estarão de volta, preciso tirá-lo daqui.
O profeta do diabo me levaria embora, o barqueiro da morte, era meu destino, nada mais importava. Olhei fixamente em seus olhos, estavam vermelhos como labaredas de fogo. Era um monstro. Eu havia me tornado como ele. Aproximou-se. Envolveu-me em sua capa, tudo ficou escuro, trevas, sentia-me como se estivesse voando, levitando, estava indo para minha prisão, pagaria pelos pecados no purgatório, estava indo para o inferno. Estava sendo carregado pelo anjo da morte, o profeta do diabo. Desmaiei.

*****************************************

Breve... Capítulo II
:wink:
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Sayuri
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Re: Mudança do tópico "pra quem gosta de vampiros"

Mensagem por Sayuri »

*-*

amei a história

nada como uma tragédia logo de cara pra dar clima à história ^^

fico esperando o próximo chapter
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Re: Mudança do tópico "pra quem gosta de vampiros"

Mensagem por -Miit- »

acabei de baixar *-*
a historia ainda nao tem um titulo ?

-x-
editado

acabei de vê o titulo no doc -.-'
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lyne
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Re: Mudança do tópico "pra quem gosta de vampiros"

Mensagem por lyne »

:arrow: Capitulo II A maldição
A luta começou, está dentro de mim, a besta, a fome, ela deve ser contida.


Ainda era noite. Havia dormido como uma criança. Acordei com o balanço da carruagem dançando sobre os pedregulhos da estrada. Não sei quanto tempo passei naquele estado de torpor. Estava zonzo com a nostalgia. Elizabeth fora assassinada. A besta havia tomado conta de mim, agora ela estava à solta, entorpecida pelo ódio e pela insanidade. Matei um homem. Queria acordar daquele pesadelo. Impossível. Olhei para o lado e lá estava ele, o profeta do diabo.
Sua postura era de um nobre da alta sociedade, possuía um espírito sarcástico e às vezes sério como um burocrata. Seus olhos transmitiam medo, eram negros como jabuticaba.
Aquela noite havia sido turbulenta. Ele disse que eu havia recebido o dom que faltava. Não consegui compreender o que ele dizer naquele momento, a única coisa que sabia era daquela carruagem me levando para o inferno. Estava sendo guiado para meu próprio sepulcro. Seria tarde demais pedir perdão a Deus?
Estava olhando fixamente para frente. Os fatos daquela noite me incomodavam, a insanidade de Marcus, a morte de Elizabeth, a minha condenação por matar um homem. Foi a primeira vez na vida que derramei sangue humano. Marcus merecia aquele fim, mas não cabia a mim o julgamento de condená-lo. Estava com a cabeça perturbada.
O profeta do diabo podia ler minha mente como se estivesse lendo um livro sem nem mesmo folhear as páginas.
– Como você sabia que tudo aquilo aconteceria?
Olhou-me fixamente. Seus olhos estavam dançavam em chamas.
– Posso ver seus corações refletidos em seus pensamentos. Com um pouco de intuição pude visualizar o palco, o cenário e seus atores.
– Mensageiro do demônio.
– Eu sou complicado, Marcílio. – O desgraçado ria.
– Você é um monstro. – Repudiei-o.
– E você também. – Risos, como sempre, sádicos.
O sentimento de culpa tomou conta de mim novamente. Aquelas palavras me fizeram despertar. Ele tinha razão. Tornara-me um monstro, um assassino. Não havia mais volta. A nostalgia invadia minha cabeça como um ladrão da noite.
– Sei que tem muitas perguntas, Marcílio. Todas serão respondidas ao seu tempo, não se preocupe. Sua mente pode estar obscura, mas logo receberá a luz do entendimento. Entendo que essa noite está sendo conturbada para você. Precisa descansar. Breve tudo será esclarecido. Eu prometo.
Encostei à cabeça próxima a porta da carruagem. Observava a noite. Procurei não pensar em nada. Silêncio. A neblina escondia as estrelas não às deixando testemunhar minha angústia. As árvores balançavam com a brisa leve e gostosa. Corujas observavam atentamente ao seu redor cuidando de seus ninhos. Morcegos cortavam o ar com suas investidas. O lugar era sinistro. Creio que pessoa comum em sã consciência não se atreveria a cruzar aquele ambiente.
O que seria de mim já não importava mais. Já me encontrava nas mandíbulas do inferno a ponto de ser abocanhado e descer em suas entranhas.
As lendas que eu ouvira em minha infância saltaram-me a mente. Dificilmente damos importância para tal assunto. Geralmente elas relatam a formação cultural de um povo, seus hábitos, seus costumes, suas linguagens e formas de se expressarem. Há lendas que falam de caveiras que gemem em suas covas, os mortos que voltam à vida, os bichos do mato, espíritos, fantasmas entre muitas outras. Hoje percebo que as lendas são formas de ilustrar uma realidade, mas devido a sua linguagem e local deixamos de dar a elas o devido valor. O profeta do diabo era uma lenda viva e eu estava fazendo parte de sua história.
Silêncio. Tinha perdido a noção de quanto tempo já se passara desde que tudo aquilo aconteceu. Logo chegaria o alvorecer. Já se podiam ver os primeiros raios de sol querendo beijar a montanha. Breve ela surgiria, no horizonte, esplêndida, magnífica, soberana. O sol. Percebi que o profeta do diabo estava apreensivo, apressou o cocheiro e acelerou a viagem.
Saltei ao me lembrar de uma lenda que se enquadrava com o perfil do profeta do diabo. Vampiros!
Vampiros eram criaturas temidas semelhantes às pessoas. A única diferença era que eles não possuíam sombra nem se refletiam em espelhos. Podiam mudar sua forma para a de um morcego, assim a dificuldade de serem capturados aumentava. Eram bastante perigosos. Durante a luz do dia dormiam em seus caixões e à noite buscavam se alimentar bebendo sangue humano. Os raios de sol eram letais para eles, queimavam-lhe a pele até a morte. Era comum à meia noite transformar-se em morcego e voar por uma janela para morder sua vítima no pescoço de forma que seu sangue fosse totalmente sugado. Toda pessoa que fosse mordida era infectada se transformando em vampiro. Dessa forma eles se proliferavam. Os vampiros só podiam entrar numa casa se fossem convidados. Por isso todas as noites as pessoas trancavam suas portas e janelas, impedindo assim a sua invasão.
O profeta do diabo virou lentamente a cabeça, observava-me com aquele maldito sorriso sádico estampado em seu rosto. Ele sabia o que eu estava pensando.
– Há muitas formas de se esconder a verdade e também há muitas maneiras de se contar mentiras. Obterá um conhecimento que poucos possuem, Marcílio. Enquanto as pessoas vivem folclores você viverá a verdade.
A carruagem parou de movimentar-se, a porta se abriu sendo recepcionado pelos seus lacaios.
– Seja bem vindo Senhor.
Ao descermos da carruagem pude sentir que em pouco tempo os primeiros raios de sol bateria em meu rosto. Parei por um momento para apreciar a paisagem. Se a lenda fosse verdadeira o profeta do diabo iria repudiar este momento escondendo-se de sua luz.
Sua residência estava localizada em cima de uma colina. A estrada era feita de cascalho que formavam um caminho pelo suave declive até a floresta atravessando oito arcos de pedra esmeradamente trabalhados. A mata ao redor era vasta de pinheiros e eucaliptos. Havia muitas montanhas. Pude sentir a cerração daquela manhã pousar sobre meu corpo. Que sensação agradável. Que lugar maravilhoso. Com a luz prestes a nascer já não parecia mais um ambiente sombrio. Durante a noite o diabo reinava naquele local, mas ao amanhecer qualquer um poderia dizer que tudo aquilo era obra de Deus.
Estava atônito, perplexo, admirado. Nunca havia visualizado uma vista tão maravilhosa. Em minhas lembranças nunca recordei de uma manhã de pôr do sol, sempre acordava em volta de quatro paredes formadas pelo meu quarto. Um dos lacaios aproximou-se.
– Seja bem vindo à residência do Conde Magnus, senhor. Acompanharei o senhor ao quarto de hóspedes.
O profeta do diabo já não estava mais ali. A evidência. A prova da verdade. O profeta do diabo era um vampiro e estava fugindo do sol daquela manhã.
Fiquei imaginando a próxima noite, meu sangue sendo drenado, infectado me transformaria em vampiro e tornar-me-ia uma aberração. Fantasiei coisas absurdas.
– Onde está o Conde Magnus?
– Descansando senhor. Queira me acompanhar, por favor.
O lacaio andou na frente enquanto o seguia. Tremia mas era necessário encarar meu destino. Ao entrar na residência do Conde Magnus fiquei vislumbrado com sua mobília estilo francês. Não entendia muito de design de interiores, mas dava para ver que o Conde possuía bom gosto. Notei alguns quadros expostos nas paredes. Havia um que me chamou bastante atenção, o quadro de uma mulher com cabelos longos e lisos, os olhos chamativos e sedutores. Seu nome, Mona Lisa. Sua assinatura, Leonardo da Vinci.
Havia um corredor logo ao lado da porta e outro na parede da frente, do lado oposto a essa havia uma escada em formato espiral que levava ao nível superior da residência. Foi para lá que o lacaio se dirigiu. Continuei seguindo-o. Após subir aqueles lances de escada, deparei-me com um corredor contendo diversas portas.
– Nesse corredor fica o quarto para os hóspedes, senhor. Vou mostrar-lhe seu quarto, acompanhe-me.
– O Conde Magnus é um vampiro? – Indaguei o lacaio, em vão, era como se tivesse falado com as paredes.
Andamos até o final daquele corredor, estando frente à penúltima porta o serviçal girou a maçaneta, entramos.
O quarto era maravilhoso, também possuía móveis trabalhados de forma artesanal nunca vista antes.
– Sinta-se a vontade senhor. Avisarei quando o café estiver sendo servido. Logo mais poderemos ir até a cidade se assim o senhor desejar.
– Obrigado.
Deitei-me. Como aquele colchão era delicioso. Sem perceber havia caído no sono, não calculei por quanto tempo, estava cansado com tudo o que houve naquela noite e com a viagem que fizemos. Tinha muitas perguntas, mas precisava ser paciente.
Acordei em torno de dez horas naquela manhã depois de um desagradável pesadelo. Elizabeth estava presente nele, eu a via no horizonte, movimentando e dobrando suas asas de anjo em suas costas. Uma visão celeste. Ao caminhar em sua direção um abismo se abriu entre nós. Ela me chamava pelo nome. Nuvens enegreceram o céu acima da minha cabeça. A cada passo senti o peso do meu corpo aumentar. Espinhos brotavam do chão perfurando meus pés descalços. A cada passo o chão afundava, o sangue fugia de minhas veias, a visão de Elizabeth se distanciava. Meus olhos queriam se fechar, tentava resistir, mas meu corpo caiu e não tive mais forças para levantar. Uma parede de fogo envolveu-me. Havia um homem negro sem rosto parado em minha frente, não consegui reconhecê-lo. Ele dizia coisas que meus ouvidos não entendiam. Tudo ficou escuro. A visão do inferno.
Acordei com o corpo todo suado, ofegante. Ao lado do pé da cama pude ver uma bandeja farta com pães, manteiga e suco. Estava com fome, aquela seria à última vez em que eu faria uma refeição.
Após me alimentar desci até a sala, havia muitos lacaios que andavam para lá e para cá. Em frente a uma das paredes visualizei um quadro que prendeu minha atenção, a imagem da penumbra de uma mulher próxima a uma árvore, Os céus acinzentados e raios rasgando os céus. A mulher estava de costas para outras três pessoas como se estivessem ajoelhados e chorando enquanto ela estendia as mãos para o céu como implorando a ser arrebatada dali. Aquele quadro tinha minha assinatura, Marcílio Mosset, o quadro que pintei logo após a morte de minha mãe.
Senti saudades. Meu coração queria chorar, aquilo talvez me fizesse esquecer o dia em que minha irmã chorava assim que saiu de seu ventre. Lembro-me das lágrimas do meu pai, semelhantes as que descem pelo meu rosto nesse momento. De maneira estranha os sentimentos de culpa se extinguiram temporariamente, minha cabeça estava tão limpa quanto à neve branca. Desejei ir até a cidade. Depois de dezessete anos preso em meu quarto queria conhecer o dia a dia das pessoas.
– Gostaria de ir até a cidade. – Disse a um dos lacaios.
– Mandarei preparar a carruagem, em breve partimos senhor.
– Obrigado.
Não demorou muito a carruagem estava pronta para sair. Enquanto o cocheiro nos conduzia ao nosso destino, o lacaio do profeta do diabo estava ao meu lado, acompanhando-me naquela viagem, não importa onde estivesse ele estaria do meu lado. Sentia-me como um prisioneiro. Enquanto viajávamos observava atentamente a paisagem, a mata e os animais. Continuava encantado com aquela paisagem. Queria pintar aquele lugar, fazer um quadro e guardar para sempre comigo. Que lugar misterioso era aquele.
– Onde estamos exatamente?
– Próximos da divisa do Rio de Janeiro com São Paulo senhor. Logo após o pé da montanha a cidade mais próxima fica a uns oitocentos metros, senhor. Chegaremos em breve.
Quando menos se esperava já se podia ouvir a balbúrdia, a banalidade gritante, a desordem ruidosa. Pessoas com suas barracas oferecendo seus produtos. O pandemônio de pessoas ofertando e contra ofertando a compra e venda de todo tipo de mercadoria. Fiquei abismado, achei aquilo muito interessante. A carruagem parou próximo. Estava parecendo uma criança curiosa, conhecendo o mundo pela primeira vez.
– Caso deseje algo senhor, o mestre mandou-me trazer algumas moedas para...
Deixei-o falando sozinho enquanto me enfiava no meio daquele tumulto. Nunca sentira aquela sensação antes, como era diferente a vida daquelas pessoas enquanto sempre escolhi a solidão, sendo acolhido pela fraca luz das lamparinas do meu quarto.
Era grande o empurra-empurra, parei frente a uma barraca com flores. As lembranças da noite passada retornaram à minha mente quando aquela velhinha apareceu para mim e Elizabeth, quando lhe entreguei aquela rosa, quando aconteceu nosso primeiro beijo.
Lágrimas queriam sair de meus olhos. Resisti. Me retirei do meio daquele motim. Comecei a andar pelas ruas como um nômade. Sem destino. Passei por diversos lugares até encontrar a igreja da cidade. Fiquei um tempo admirando-a. Entrei.
A igreja era simples, construída sobre mármore com grossas paredes e as janelas em madeira trabalhada. O altar possuía uma estátua de Jesus Cristo crucificado. Havia poucas pessoas rezando. O sacerdote aproximou-se colocando sobre o altar um castiçal com sete velas acessas.
Ajoelhei e comecei a rezar. Pedi perdão a Deus pelos meus atos, meu destino ainda era obscuro para mim e temia o que ainda não conhecia. Estava preso nas mãos do Conde Magnus, o profeta do diabo, e não podia retornar mais para a casa do meu pai. Pedi paz para o espírito de Elizabeth e que se fosse da sua vontade que nós pudéssemos nos rever nos céus, na hora certa.
Ainda nos dias de hoje aguardo ansiosamente por esse momento. Já se passaram quase duzentos anos e ainda estou aqui, vagando na terra feito um fantasma, uma assombração para muitos, uma aberração para o mundo.
Elizabeth ainda estava presa em meus pensamentos, tentei imaginar o quanto as pessoas da cidade estariam perturbadas com o que houve. A morte de Elizabeth, Benda e Marcus. A família sendo destruída e Marcílio Mosset desaparecido ou foragido. Como meu pai, minha irmã e Vassalo reagiriam com toda aquela situação.
Não pude conter. As lágrimas eram como cachoeiras sendo puxadas com a gravidade do planeta. Soluçava. Isso chamou a atenção de algumas pessoas, principalmente do Padre.
De cabeça baixa pude ouvir passos denunciando a pessoa, vindo em minha direção, aproximando-se parou ao meu lado. Senti o toque de sua mão acolhendo-me em seus braços e sua voz entrando em meus ouvidos.
– Chore, pode chorar, você está na casa de Deus. Ele ouve suas preces, suas lágrimas lavarão sua alma. Posso sentir a bondade em seu coração. Chore a vontade, chore o quanto quiser.
Padre Augusto. Servo de Deus. Essas eram suas palavras tentando me consolar naquele momento. Queria poder confessar meus pecados. Matei um homem, destrui uma família.
Demorou um tempo até que eu conseguisse fôlego para falar. Em todo momento o Padre Augusto estava do meu lado apoiando-me. Levantei. Ao encarar seus olhos pude enxergar esperança. Dirigi-me próximo ao altar onde estava à imagem de Jesus Cristo, ajoelhei e novamente continuei rezando.
Passei várias horas naquela posição e passaria o resto da noite e ainda o dia seguinte, mas fui interrompido de minha meditação pelo lacaio do Conde. Estava hora de partirmos, o sol estava quase se pondo, o crepúsculo, o momento de estar frente a frente com o profeta do diabo. Era hora de receber minha sentença.
Quando me aproximava da saída o Padre Augusto aproximou-se rapidamente. Orientou-me a tomar cuidado para andar durante a noite devido ao perigo de ser abordado por algum ladrão, delinqüente ou até mesmo por algo estranho. Sua voz saiu meio cortada ao dizer aquela última frase. Muitas coisas estranhas aconteciam ao cair do sol. Já desconfiava, as lendas, os vampiros, Conde Magnus.
Disse-me que poderia procurá-lo a qualquer hora para conversar, ele sempre estaria disposto a me ouvir e me ajudaria no que fosse preciso. Fiquei muito comovido com a sua hospitalidade.
Ao sair a carruagem nos aguardava em frente a igreja. Entramos e fomos conduzidos de volta a residência do Conde. Encostei a cabeça próxima à porta e fiquei pensativo. Hora de pagar pela minha penitência.
Durante a viagem o crepúsculo insistia em acordar a noite. A cada beijo de despedida do sol a mata começava a esconder sua beleza e revelava seu lado sinistro, semelhante à noite anterior.
Não fez mais que uma hora para a noite cair. Chegamos. O lacaio entrou primeiro. Ao chegar próximo a porta senti um arrepio, respirei fundo, entrei, hora de encarar o destino.
– O mestre o aguarda, fique a vontade senhor.
Andei de um lado para o outro, nervoso. Tentava me preparar mentalmente para o segredo que iria me afrontar naquele momento.
– Está tenso Marcílio, relaxe, não vou morder. – Risos. O profeta do diabo apareceu repentinamente como um fantasma sentado em uma poltrona sendo que a mesma estava a poucos segundos atrás vazia.
Consenti balançando a cabeça.
– Sei que tem muitas dúvidas a meu respeito e sobre o que acontecerá a você. Não se preocupe Marcílio, nada farei contra a sua vontade. Uma coisa você deve concordar comigo, salvei sua vida da morte certa, agora tem uma dívida e quero negociá-la. Sei que a principio será um tanto absurdo, gostaria que apenas me escutasse e depois desse seu parecer sobre o assunto. Sente-se, por favor.
– Tudo bem.
– Marcílio, possuo poderes, posso ler sua mente, saber o que pensa, como pode ver sou diferente dos humanos, sou um filho da noite, sou um vampiro. A lenda diz muitas verdades e ao mesmo tempo muitas mentiras. Deixarei para você o julgamento se somos anjos ou demônios. Como toda criatura viva temos nossas vantagens e desvantagens, temos nossos pontos fortes e nossos pontos fracos. A diferença entre um vampiro e um ser humano é a imortalidade, ou seja, não podemos morrer de forma natural, as doenças não podem nos infligir dores, somo imunes a elas, podemos regenerar nossos corpos de todos os tipos de anomalias. Vampiros são eternos, mas nada é de graça, tudo tem seu preço. Ao se transformar a luz do sol passa a ser nossa inimiga, ela pode corroer nossos corpos como ácido nos obrigando a viver a noite enquanto nos escondemos durante o dia. Em troca temos a eternidade ao nosso lado, não somos diluídos pelo tempo, nossos sentidos são muito mais aguçados que aos humanos, nossos poderes físicos e mentais são ilimitados, quanto mais velhos ficamos mais fortes somos.
– Vocês se transformam em morcegos e bebem o sangue das pessoas à meia noite?
– Somos vampiros Marcílio e não metamorfos. – Morria de rir com a pergunta. – Quanto ao sangue sim, ele é o combustível de nossa existência. Para um vampiro a carne deixa de ter gosto, o vinho não exerce mais sabor, nada pode nos satisfazer. Apenas o sangue pode suprir nossas necessidades, ele nos deixa mais fortes, ávidos, imortais. A única forma de saciarmos a fome e a sede é ingerindo sangue.
– Vampiros se parecem com canibais. – Repudiei a raça.
– Engana-se Marcílio, fazemos parte da natureza. Os animais se alimentam das plantas e elas são seres vivos. Podemos concluir assim que os animais herbívoros são canibais. Ainda há os carnívoros que matam outros animais para se alimentarem, estes também são canibais. O próprio homem mata os animais para também se alimentarem, mais uma vez, canibais. Dessa forma podemos dizer que o mundo é feito de canibais. Cadeia alimentar meu caro Marcílio. Nós, vampiros, apenas estamos no topo da cadeia alimentar da mãe natureza.
Encarava-o em silêncio enquanto me devolvia o olhar.
– Marcílio, quero lhe oferecer o privilégio de ter a eternidade ao seu lado, tornar-se meu aprendiz, deixar a velha vida medíocre e depressiva, ter poderes ilimitados, tornar-se um filho da noite, renascer como soberano entre as criaturas da terra.
Silêncio. Meus pensamentos estavam conturbados. O pesadelo daquela manhã me açoitava a mente, Elizabeth, o abismo, os espinhos, a parede de fogo, o homem negro. Não desejava tornar-me um vampiro e sim atravessar o véu da ignorância e partir de encontro aos braços de Elizabeth. Era impossível. Havia matado um homem e precisava receber o perdão de Deus para atravessar as portas do céu e assim encontrar minha amada.
– E se eu recusar?
– Marcílio. Entendo o que sente, sei o que se passa em seu coração e sua mente. Acredita em Deus mais que qualquer coisa neste mundo. Está conturbado e busca seu perdão. Marcus não matou Elizabeth. Você assassinou um homem inocente enquanto o verdadeiro assassino está por aí, a solta. Sua alma conseguiria viver em paz sabendo disso?
O momento da revelação. Aquilo fez meu coração parar e meu sangue congelar. Seria verdade? O ódio havia tomado conta de mim da mesma maneira que na noite anterior. Se Marcus não fosse o assassino de Elizabeth então quem seria? Maldito Conde. O profeta do diabo era astuto, diabólico, um verdadeiro demônio, ele ria como uma hiena com a minha desgraça.
– Você tem uma coisa que eu quero e eu tenho algo que você quer. Você me deve sua vida. Eu sei que é o responsável pela morte de Elizabeth. Estamos quites, mas como sou uma pessoa caridosa, ofereço-lhe a oportunidade de poder se vingar.
A dúvida havia começado a corroer-me por dentro. Ele conseguiu me manipular, enredou-me com suas artimanhas. Vingança. Aquela palavra mexeu comigo, o ódio me consumia a cada minuto, seguindo o caminho do profeta do diabo eu poderia usar os poderes sobrenaturais e descobrir o assassino, vingando a morte de Elizabeth. A terra seria meu escárnio noite após noite. Os espinhos brotando no chão ferindo meus pés e meu corpo. Aquele pesadelo selara meu destino. Já não havia mais vida para mim. Não poderia mais voltar para a minha cidade e para a minha família, não tinha para onde ir, tudo havia acabado na noite passada após ter deixado Elizabeth em sua casa.
O profeta do diabo conseguiu me convencer. Aceitei sua oferta. A partir daquele dia carregaria minha própria cruz. Não tinha mais nada a perder, tudo se fora. O Conde tinha a expressão séria. Encarava-me. Seu sorriso era maléfico, sarcástico, sínico.
– As coisas não são tão fáceis assim, Marcílio. Tudo tem seu preço. Irei lhe conceder o dom da vida eterna, mas quero algo em troca. – Risos, era o que fazia de melhor.
– E o que você deseja de mim?
– Quero que fique comigo, será meu aprendiz e eu apreciarei sua arte, irei imortalizar seus talentos!

Marcílio parou, por um breve instante tentou não se lembrar daquele momento, a transformação, mas era impossível esquecer, era como ter uma marca queimada sobre a testa sinalizando a maldição. Tentava respirar mesmo quando seus pulmões não precisavam de ar. Lembrar-se daquela sensação o deixava ofegante.
O Padre Alexandre podia sentir na pele a aflição de Marcílio. Silenciosamente aguardava seu discurso.

Não precisei falar uma palavra, o profeta do diabo lera meus pensamentos. Como um fantasma sumiu, evaporou, não se encontrava mais na poltrona. De repente fui abraçado pelo demônio. Senti suas presas serem encravadas em meu pescoço, rasgando minha pele e o líquido da vida aos poucos sendo exalado do meu corpo, drenando minha vida. Não demorou muito para que eu desmaiasse. Estava moribundo. Meus pulmões queriam soprar o último fôlego da vida. Senti muita dor mas aos poucos ela ia se dissipando. Tudo escurecia. Queria fechar os olhos e partir. Esperava que aquilo pudesse acabar rápido. A última coisa que pude visualizar antes de temporariamente perder a consciência foi o profeta do diabo rasgando seu pulso com seus próprios dentes. Gotas de sangue que brotavam de suas feridas caiam em minha boca adentrando minha garganta. Não sentia dor, não sentia sabor, não respirava, não sentia mais nada. Pensei ter morrido.
Engano meu. A hora da transformação não tardou a chegar. Seu sangue fez com que a morte se esquivasse de mim. Como mágica o poder daquele líquido maldito começou a transformar-me. Meu espírito, arrebatado de meu corpo, voltou como se estivesse caindo dos céus sobre as rochas. A dor começou a tomar conta de todo meu ser. Como era insuportável. Senti cada parte dos meus órgãos sendo torcido. Cada tecido do meu corpo se rasgava. Comecei a gritar feito um louco caindo no chão e me contorcendo. Não sei por quanto tempo fiquei sofrendo aquela tortura, cada segundo parecia uma eternidade. Gritava com o intuito de aplacar um pouco aquela dor, mas era em vão. Tentei rezar para que aquilo acabasse logo. Se existisse um céu esperava chegar logo até ele, mas se houvesse um inferno eu já sabia onde me encontrava. Não há palavras por mais perfeitas que sejam, suficientes para descrever aquela cena de terror. Imagine o que é ter o corpo preso por milhões de anzóis sendo puxado ao mesmo tempo para todas as direções ao mesmo tempo em que toma um banho de salmoura dentro de um barril, isso ainda não seria a ínfima parte do sofrimento. Fui tragado pelas mandíbulas inferno.
Desmaiei por um breve instante, o Conde estava próximo, inerte, observando-me. Tentei abrir os olhos, estavam ardendo como se houvesse cebola. Lacrimejei. Havia me transformado. A maldição estava em meus lombos. Pude ouvir a voz do Conde dentro de minha cabeça. “Seja bem vindo, Marcílio”.
Com sua ajuda me levantei. Meus olhos ainda pegavam fogo. Doíam. Meu estômago ardia como o ferro sendo fundido. Queimava. Sentia sede, fome, não queria água e nem comida, estranhamente desejava beber sangue. Tarde demais, agora eu era um filho da noite, ressurgira dos mortos, acordara a besta dentro de mim, ela precisava ser contida. Somente ingerindo sangue ela pode ser apaziguada. A batalha em meu íntimo havia começado.
– O começo é assim mesmo, Marcílio. Logo você estará acostumado. Siga-me, por favor.
Minha audição estava mais aguçada, podia ouvir o som de um alfinete caindo a metros de distância. Enquanto caminhava pude ouvir vozes vinda dos lacaios do Conde em minha cabeça, eram muitas, não consegui entender o que diziam mas falavam algo sobre mim. Acabara de renascer e ainda precisava dominar meus sentidos, medir minha força, aprender a manipular os poderes, acostumar com a vida noturna.
Não havia conhecido toda casa, os outros cômodos não eram diferentes da sala principal, tudo em estilo francês e quadros espalhados por todas as paredes. Notava-se que o Conde era um verdadeiro apreciador de arte. Se sua residência pegasse fogo ele seria capaz de dar sua vida para salvar aqueles quadros.
Fui conduzido até a cozinha, hora de aplacar a besta, saciar a sede. A mesa era enorme, mas vazia. O conde sentou-se em uma ponta enquanto me acomodei na outra extremidade. Um de seus lacaios aproximou-se trazendo consigo uma bandeja de prata com uma garrafa e duas taças. Serviu-nos daquele liquido viscoso e avermelhado, o elixir da vida, sangue.
– Acabou de renascer, meu caro Marcílio. Está fraco e precisa se alimentar precisa de energia.
Olhei atentamente para aquela taça tentando imaginar quem seria à vítima, seus gritos e sofrimentos enquanto aquele sangue lhe era drenado. Tive enjôo. Acabara de renascer e não me acostumara ainda que era um monstro, um demônio, uma sanguessuga.
Minhas entranhas clamavam por ingerir aquele alimento. Tentei resistir ao desejo, resistir à besta, resistir à fome. Estava decidido a não beber sangue. Mesmo tendo ciência da minha condição atual, mesmo sentindo minhas entranhas se contorcerem não aceitava o fato de alimentar-me do sangue das pessoas. Procuraria outra forma de me suster.
– Não. Não posso.
Gritei. Segurando a taça arremessei-a contra a parede fazendo-a partir em milhares de pedaços manchando a parede. Imediatamente o seu lacaio correu para limpar a sujeira.
Levantei-me da cadeira, fiquei tonto, cambaleei apoiando uma das mãos sobre a mesa. O Conde ria histericamente da minha fraqueza e da atitude insana.
– Marcílio, você parece uma criança evitando uma refeição de verduras e legumes, mas no final acabará cedendo. Necessita de energia. Não conseguirá resistir por muito tempo. Perderá a sanidade e a humanidade em pouco tempo, transformar-se-á em monstro e procurará saciar a sede cometendo atrocidades.
O Conde tinha razão, a dor que sentia no estômago era insuportável. Lembrei-me de Jesus Cristo crucificado, tentei imaginar a dor que teve de suportar pela raça humana enquanto expiava por seus pecados. Eu não beberia sangue, esse seria meu sacrifício por eles.
– Gostaria de ir para o quarto, preciso descansar.
– Precisa se alimentar Marcílio. Somente o sangue é capaz de suprir todas as nossas necessidades, mas tudo bem. – Suspirou. – Sei o quanto é difícil aceitar. No começo é normal, mas no final todos nos rendemos.
O Conde levantou-se fazendo sinal para que eu o seguisse.
– Essa noite você dormiu no quarto de hóspedes, agora vou acompanhá-lo ao seu aposento permanente. Venha meu caro, será nele que você ficará daqui para frente.
Acompanhei-o. Voltamos ao imenso corredor e seguimos até a última porta. O cômodo era pequeno e apertado, havia objetos de limpeza estocados e no canto esquerdo um alçapão. Entramos. O local possuía algumas lamparinas com a iluminação muito baixa, um ser humano comum teria dificuldades em enxergar, involuntariamente meus olhos se acenderam, ficaram vermelhos para se adaptar a escuridão. Pude enxergar como se fosse dia.
O corredor declinava e as paredes possuíam um pouco de umidade. O fim daquele corredor levaria próximas as rochas da costa do Rio de Janeiro, uma rota de fuga. Possuia diversas bifurcações. Um verdadeiro labirinto. Enquanto descíamos, em uma curva moderada, havia uma pequena fresta quase imperceptível. Esgueirando-se por ela chegamos a um corredor pequeno e apertado. Com alguns passos o local se alargou, era sem saída, com exceção de uma escada em espiral que levava ao nível superior.
Ao subir me deparei com um ambiente semelhante ao interior de um castelo, mesmo não possuindo entradas para a luz do sol, fiquei impressionado com a beleza daquele local. A planta era no formato pentagonal, o teto construído como abóbada em cruzaria, estilo gótico. Sua área útil era enorme assim como seu pé direito, forrado de pinturas e quadros. No centro se levantava uma base formando em sua parte superior três garras de gárgula apoiando uma grande pilha de folhas de prata, elas reluziam luzes de forma esplêndida, hipnotizadora. Em uma das laterais havia estantes com manuscritos e pergaminhos, enquanto do outro lado às outras mobílias enfeitavam o espaço. Aquele lugar parecia um conto de fadas.
– Estou encantado, que lugar maravilhoso.
– Esse é meu refúgio Marcílio, a partir de hoje será aqui que você vai viver.
– O que são essas folhas de prata?
– Manuscritos meu caro, manuscritos. Os vampiros existem desde a época de Adão e Eva. Um de seus filhos condenado a essa vida disseminou sua cólera para o mundo que se formava. Castigado a esconder-se da luz do sol, um anjo foi enviado a ele dando-lhe instruções de como sua raça poderia proceder para receber salvação. Foi ordenado a escrever a história de sua raça para as gerações futuras. O papel facilmente é corroído com o passar dos anos, o tempo o devoraria sem dificuldades, então ele passou a escrever em placas de ouro. Para que pudessem perpetuar pela eternidade.
Olhei-o de forma incrédula. Se o que o Conde disse fosse verdade então havia esperança para minha condição. Eu poderia receber o perdão de Deus e me encontrar com Elizabeth no outro plano. Os manuscritos escritos em folhas de prata estavam na minha frente e ainda havia outros escritos em placas de ouro contando toda a genealogia vampiresca e como poderiamos ser salvos daquela maldição. O papa seria capaz de vender a própria alma para o demônio se soubesse da existência dessas coisas.
– Infelizmente não se sabe onde se encontram essas placas de ouro. As folhas de prata são apenas um resumo do que contém as placas de ouro, as recebi do meu senhor quando fui transformado em um filho da noite.
– Essas informações são verídicas? Elas contam o que é necessário para obter a redenção, o perdão de Deus? – Custava a acreditar.
– Infelizmente não meu caro. Mesmo assim meu mestre escreveu toda informação que conseguiu absorver nessas folhas de prata. É importante mantermos um diário sobre nossas vidas meu caro. É de suma importância que você, agora um filho da noite, conheça sua raça, sua existência. O conhecimento será sua arma para poder lutar e viver nesse mundo que, evolui ao passar dos anos. Vi muitas coisas que nem imaginaria que existisse caro Mosset.
Foi a primeira vez em que o Conde me chamara pelo sobrenome.
– Precisa conhecer o mundo meu caro, aprender a viver como um vampiro, como se portar perante as pessoas, como caçar e se alimentar furtivamente, lutar contra caçadores, esconder do sol.
Meu pai, minha irmã Clarisse e Vassalo. Eles não saiam da minha cabeça mesmo sabendo que, naquelas condições, seria impossível viver com eles novamente. Elizabeth também não se desrragava de meus pensamentos. Enxergava um fio de esperança.
– Conde Magnus quero lhe fazer um pedido assim que estiver preparado para encarar o mundo.
– O que quiser meu caro Mosset.
– Gostaria de visitar o túmulo de Elizabeth. Vê-la uma última vez e se possível visitar minha família.
– Chegará esse dia meu caro Mosset. Agora você tem a eternidade do seu lado. Chegará esse dia. – Consentiu com a cabeça. – Venha Marcílio, conheço seus desejos, antes que possa lhe contar qualquer coisa quero lhe mostrar algo que irá agradá-lo.
Em um canto próximo à prateleira de livros havia um espaço que levava a outro dormitório, também muito espaçoso. Tinha uma cama bem grande com um grande espelho enfeitando uma das paredes. O Conde aproximou-se de uma das cômodas, puxando um pano branco que cobria alguma coisa. Surgiu um tripé com uma tela de pintura. Meus olhos brilharam e um sorriso insistiu em sair de meus lábios.
– Sabia que iria gostar. Esse será seu dormitório Marcílio. Pinte. Amanhã lhe contarei mais sobre a história dos vampiros. Sei o que deseja. Procurarei sanar suas dúvidas. Sinta-se a vontade.
Lembrei-me do amanhecer daquele dia, nunca mais poderia ver a luz do sol novamente. Estava ansioso para chegar à próxima noite. Desejei pintar a imagem que visualizei naquela manhã. Mesmo com a dor no estômago me incomodando devido à fome, passei o resto da noite pintando, tentando esquecê-la.

Segue link pra quem quiser baixar: http://www.4shared.com/document/8jqj_cB ... _e_II.html :D
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-Miit-
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Re: Mudança do tópico "pra quem gosta de vampiros"

Mensagem por -Miit- »

a historia super vicia sabe
nao é tipo aquelas que te deixa desanimada logo no começo,ela da vontade de continuar lendo ate acabar ...
eu gostei ^^
mas uma coisa que achei estranha na historia foi colocar cosplay de zorro '-'
nossos pais nao sabem oque é cosplay, dai coloca cosplay em um livro é tipo estranho, eles nao iriam entender,acho que ficaria melhor fantasiado de zorro algo assim...
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lyne
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Re: Mudança do tópico "pra quem gosta de vampiros"

Mensagem por lyne »

Meu marido agradeceu pelo elogio e a observação...vai pensar em algo melhor para mudar...
logo tem mais...

bjss
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meiling
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Re: Mudança do tópico "pra quem gosta de vampiros"

Mensagem por meiling »

amei a história
qual o título?
''Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional."
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