[Fic] A Concubina

[Sayuri]

A CONCUBINA


Gênero: Drama
Classificação: Livre

China, 1897

No 17º aniversário do meu nascimento fui levada ao Huangdi. Neste dia, tornei-me sua concubina e passei a morar no Palácio da Tranquilidade Terrestre da Cidade Proibida junto com muitas outras. Sempre me disseram que foi uma grande honra ser escolhida como candidata à concubina e que minha família poderia assim fugir da miséria. Na realidade, era apenas uma gaiola dourada.

Todos os dias tínhamos aulas de canto e música, além de dança e modos. Nossos pés eram amarrados e apertados todos os dias para garantir que eles permaneceriam pequenos, nos proporcionando um andar gracioso e delicado. Algumas escravas e servas nos banhavam e forneciam nosso alimento. Somente eunucos nos vigiavam e a favorita do Huangdi controlava nossas atividades. Nosso único objetivo era esperar pela vontade do Huangdi.

Na primavera deste mesmo ano surgiu uma moça nova chamada Chen Ji Yue, refinada e elegante. Ela se destacou entre as outras pela suas feições suaves e seus olhos vivos cor de amêndoa. Sua pele alva e lisa quase não requeria cuidados, o que invejavam as outras, já a mim, fascinava. Em pouco tempos nos tornamos achegadas e descobri que Ji Yue era filha de uma das concubinas mais velhas e do Huangdi anterior, portanto, uma princesa também. Ao passo que minha afeição por ela aumentava, o desafeto das demais tornava-se cada vez mais claro, principalmente o da Favorita.

Quatro anos se passaram desde que a conheci e neste tempo ela foi chamada pelo Huangdi cinco vezes, mais do que a maioria de nós seria a vida inteira. Algumas até murmuravam que em breve ela substituiria a Favorita e tomaria seu lugar.

Um mês depois da última vez que fora chamada ela me disse que suas regras estavam atrasadas e no mês seguinte ela confirmou o que já suspeitava. Ao anunciar isto à Favorita, ela recorreu, como de praxe, aos registros de nossas visitas ao Huangdi e de maneira fria ela disse que Ji Yue não estivera com o Huangdi no tempo previsto. Com um sorriso cruel nos lábios vermelhos, ela decretou que Ji Yue seria executada por infidelidade no dia seguinte. Ji Yue não esboçou nenhuma reação, nem mesmo chorou ou protestou. Ela saiu com a graça que lhe era característica e veio até mim. Enxugou minhas lágrimas e sussurrou:

- Por que choras pela minha liberdade?

E foi levada pelos eunucos com um sorriso no rosto que nem mesmo a Favorita conseguiu tirar. E eu nunca mais a vi.

Sete anos depois o Huangdi morreu envenenado e seu sobrinho Pu-yi se tornou o novo Huangdi. Este não durou quatro anos até que a revolução lhe tirou o poder. Dentro do palácio não sabíamos do mundo externo, só nos disseram que agora não existiria mais um Huangdi e que devíamos sair, eu até mesmo ouvi a palavra “livre”.

Seria esta a liberdade que Ji Yue me falara?

Se o que vi era a liberdade, preferiria estar na minha gaiola dourada.
Fora do palácio pela primeira vez em muitos anos, eu não conhecia nada ao meu redor, as lembranças de minha infância me abandonaram totalmente. E não era só eu quem estava nesta situação, muitas também se sentiam perdidas e assustadas. Nunca soube dizer o que aconteceu à elas e pouco me importava diante das minhas próprias dificuldades. Sem ter o que comer, onde dormir e a quem recorrer, eu vagueava como um fantasma e as pessoas me evitavam como se eu fosse uma doença.

Quando eu revi uma das moças que morava comigo no palácio, seu rosto estava distorcido e sujo, o cheiro que emanava dela era insuportável, seu corpo também estava numa posição incomum, só a reconheci por usar roupas parecidas com as minhas. Em silêncio eu agradecia por Ji Yue não passar por isto, por ela estar livre de todo este sofrimento e ter tido uma morte limpa.

Somente neste instante compreendi suas últimas palavras, de que ela estaria livre de todo o sofrimento que corroía a sua alma e que agora se apoderava da minha. Percebi que eu não estava muito distante de receber o mesmo destino que o corpo à minha frente recebera. Em vez de chorar e fugir da minha sina, eu iria de encontro à ela de braços abertos. E como Ji Yue eu também estaria sorrindo.

Este foi o meu último pensamento e o sorriso de Ji Yue foi a última coisa que vi antes da escuridão.

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Hey pessoal, essa foi uma fic q eu escrevi para um concurso e como ela foi bonitinha, resolvi postar aqui tbm e compartilhar xD

Já eh curtinha pra facilitar leitura
espero q gostem

[Yakannazo]

Ficou muito bom mesmo, parabéns.